sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
a hora da estrela
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
_caio f.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
[...]
Caio F.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
_Aldous Huxley
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
sugestões para presente:
_rita apoena
domingo, 22 de novembro de 2009
lady macbeth
_william shakespeare in 'Macbeth'
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Tomara.
flecha no peito
ar de herói abatido
sangrando muito
& moribundo
como não dá
a pontaria piorou
as armas evoluíram
ninguém mais dá flechadas
& pra falar a verdade
você bem sabe
eu
super-herói qualquer
sou vulnerável
faço cara
de quem comeu e não gostou
no fundo
adorei
& só de dizer tudo isso
já sinto me voltar teu apetite
querendo tudo de novo.
_leminski
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
fluxofloema
tempo não é, senhores, de inocência, nem de
ternuras vãs, nem de cantigas, diziam e eu não
sabia que a coisa ia ser comigo, entendes? E o
mundo parecia cheio de graça [...] mas o tempo
não está para graças...'
_hilda hilst
guru.
_caio f. abreu
sábado, 31 de outubro de 2009
_henry miller
sábado, 24 de outubro de 2009
"E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma, porque ele brota sozinho entre os dedos da mão, e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali, porque aquele é o banquinho do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas. Eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio."
_rita apoena
domingo, 18 de outubro de 2009
cartas de um sedutor
_hilda hilst
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
feliz ano velho
_marcelo rubens paiva
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
lavoura arcaica
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
terror & êxtase
sábado, 3 de outubro de 2009
Heloísa
_graciliano ramos, meados de abril, 1935
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
O marinheiro
Para olhá-lo, também eu precisava de certa loucura. Essa, que me indicava. A mesma a que me tenho negado em susto, atravessando cotidianos de monótonos côncavos deliberados, movendo-me pelos labirintos coloridos desses interiores sempre previstos, embora absurdos. Não havia sol naquela tarde, nem cores caindo sobre os objetos. Eu não estava distraído nem tinha disfarce algum quando ele me olhou. Ele não tinha nenhum disfarce quando eu o olhei. Mas não devia me permitir escorregar naquele mergulho de peixes quem sabe vorazes, isso só compreendo agora, e com esforço, sete dias depois de sua partida, uma garrafa de vinho tinto, a chuva se foi, restaram o frio e a umidade que amolece papéis e vontades, aberta ao lado da janela escancarada para a noite enorme lá fora, onde ruge uma cidade estufada de rumores e procuras. Preciso dizer neste momento, embora talvez não caiba aqui. Ainda que me tenha isolado assim drástico, ainda que elabore dentro de mim e da casa pacientes, irrefutáveis justificativas para ter cerrado as portas ao de fora, o humano que afastei através dos vidros coloridos, esse humano dói, palpita, ofega, tem ritmos suarentos fora de mim.'
_caio f. abreu
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Triângulo das águas
Apanhou o cálice quase vazio junto ao sofá, e penetrou pelo corredor de paredes também brancas, tão estreito e alto que sentiu uma espécie de vertigem.'
_caio f. abreu in 'pela noite'
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
_joão cabral de melo neto in 'os três mal-amados'