quarta-feira, 17 de março de 2010

Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono histórias, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar.

Caio F.


sexta-feira, 5 de março de 2010

'Inesperadamente pacífica, ou com o gosto de outra paz, antiga, o blues trazia uma vontade de deitar-se no chão, ao comprido, sobre almofadas, para olhar detidamente o teto, suas tênues rachaduras, rios num mapa, ascintilações dos anúncios luminosos através das vidraças fechadas, alguma coisa dura nos ombros se soltava, talvez acenderia um cigarro, se fumasse, apagaria as luzes, bebendo lento o vinho. Apanhou o cálice quase vazio, junto ao sofá, e penetrou pelo corredor de paredes também brancas, tão estreitas e alto que sentiu uma espécie de vertigem.'

caio f.
Te amo por ceja, por cabello, te debato en corredores
blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz,
te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz,
voy poniéndote en el pelo cenizas de relámpago
y cintas que dormían en la lluvia.
No quiero que tengas una forma, que seas
precisamente lo que viene detrás de tu mano,
porque el agua, considera el agua, y los leones
cuando se disuelven en el azúcar de la fábula,
y los gestos, esa arquitectura de la nada,
encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro.
Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo,
pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco
con ese pelo lacio, esa sonrisa.
Busco tu suma, el borde de la copa donde el vino
es también la luna y el espejo,
busco esa línea que hace temblar a un hombre
en una galería de museo.
Además te quiero, y hace tiempo y frío.

cortázar.

bilan

O que vai ficando é distância,
estilos, afetuosas vacuidades,
e cada vez mais um pouco menos, miséria
porém em que se fica bem à vontade.

E cada vez menos um pouco mais.

Vida,
calça com joelheiras,
pezinho de alface estragada
para a maritaca.

cortázar.